Sou um péssimo blogueiro. Apesar de saber que isto aqui não faz sentido sem uma postagem regular, eu ainda tenho dificuldades em desenvolver a disciplina. Mas, mesmo assim, se você ainda passa por aqui para ver se tem algo de novo, hoje tem!
Faz um mês, ou um pouco mais, que voltei do meu workshop fotográfico no norte da Albânia e desde então estou no processo de elaboração do produto final do workshop – um photobook, ou melhor uma revista. Não vou contar aqui detalhes do workshop, que foi fabuloso, nem da Albânia, que é um lugar lindíssimo e fascinante. Afinal, isto aqui é um blog fotográfico, e não turístico. Esses detalhes ficam para papos de bar com quem se interessar.
Aqui o foco é o processo, e essa é a parte mais interessante. A produção de uma publicação física (um photobook ou uma revista) vai muito além do processo ou da técnica fotográfica. A concepção da “história”, a seleção do tema, a edição das imagens, o seu processamento e a composição e diagramação do produto final exigem habilidades e conhecimentos que eu não tinha, e que agora tenho de modo superficial. Coisas como design gráfico, layout de páginas, sequenciamento de imagens, tipografia, etc, passavam ao largo do meu interesse fotográfico e das minhas habilidades técnicas. Mas agora se tornam fundamentais para esse trabalho, exigindo de mim um aprendizado muito intenso e ainda mais profundo, o que toma tempo.
Por outro lado, a perspectiva da produção de um todo coerente e com uma expressão material, tangível, física, além do aspecto técnico causa também uma transformação radical na minha abordagem fotográfica. Eu sei que isso soa um pouco óbvio, mas na real esse foi o aspecto que mais me chocou, ou aquele que mais provocou mudanças na minha fotografia.
O foco não é mais o “como fotografar?”. Isso está (ou deveria estar) resolvido – o domínio d técnica e dos equipamentos, a adaptação às diferenças em luz, cor, composição, etc. Todos ali no workshop eram proficientes. Todos grandes fotógrafos, talvez eu ainda começando, mas mesmo assim orgulhoso por poder fazer parte daquele grupo de artistas tão talentosos.
O foco se desloca para “o que fotografar?”, ou ainda mais profundo e desafiador, “por que fotografar isso?”. A história a ser contada, a posição e a relevância daquela imagem em particular no conjunto de imagens produzidas, a significância das imagens produzidas para dar força e ritmo à história contada, tudo isso passa a estar presente na minha cabeça agora quando fotografo. As fotos agora pertencem a um contexto, que no caso é ditado por mim, mas que poderia ser ditado por outros também.
Isso traz a fotografia para uma nova dimensão de percepção, algo mais conectado e contextualizado. E é justamente nesse ponto em que me encontro no momento, ainda explorando essa nova dimensão da fotografia. Ao mesmo tempo em que é desafiador e estruturante, até difícil, abre possibilidades além das que eu percebia antes do workshop. Excitante.
Ainda tenho um tempo para enviar minha publicação para a impressão, e enquanto mergulho nessa nova dimensão ainda não sei o que postar no Instagram ou Flickr. OU se vou voltar a postar alguma coisa nessas plataformas…
RR