Embora caótico, meu processo fotográfico tem objetivos. Nem sempre são claros e bem definidos, mas quase sempre apontam para uma reflexão sobre a minha intenção ao fotografar. Mas a intenção não precisa ser objetiva e pode ser simplesmente me divertir, ter prazer como ritual fotográfico – abertura, velocidade, ISO, contraste, etc.. Outras vezes é mais focada, como “fazer uma longa exposição daquele riacho”.
Isso tem mudado, desde o workshop na Albânia. O meu processo tem evoluído para uma reflexão sobre a intenção – uma transição do foco no “como fotografar” para “o que fotografar” e agora para o “por que fotografar isso”.
A intenção, no contexto da fotografia artística, tem muito a ver com o vocabulário visual (!) do fotógrafo. Em outras palavras, a intenção está relacionada com a sua experiência nesta vida, do seu posicionamento pessoal sobre os ambientes e situações que fotografa e, de maneira ainda mais marcante, do contato e familiaridade que o fotógrafo tem com o trabalho de outros fotógrafos. Mas não é só isso. Se numa situação de trabalho profissional a intenção é normalmente ditada pelo cliente (que sabe o que quer em alguma medida) num trabalho artístico a intenção tem a ver com a “personalidade” do fotógrafo e com a sua busca, ou o que ele quer para si com aquela fotografia. Naturalmente essas coisas não são estanques e também se relacionam, fazendo com que grandes fotógrafos sejam contratados profissionalmente justamente pelo seu enfoque e posicionamento pessoal – o seu “estilo”.
Eu não sou (ainda) um fotógrafo profissional. No meu caso a reflexão sobre o meu contexto pessoal ocupa uma posição destacada ou central e a fotografia passa a ser uma “contemplação”, ou “meditação”. Isso remete, por exemplo, ao Miksang Institute e ao trabalho de tantos fotógrafos que também identificaram esse caminho meditativo na fotografia. (Se você se interessou sobre isso, sugiro um google sobre “meditation and photography” e vai se surpreender).
O mais interessante é que, com o foco na intenção eu tenho fotografado menos, e não mais. Mas as fotos tem sido mais significativas, ou mais densas no conteúdo, ao menos para mim. Quem diria….
RR